terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Querido Zézim,

    Não escrevo sobre amor. Não, não. De forma alguma. O que escrevo - e descrevo - é o fracasso. A falha, a falta. Ausência.
    É, Zé. Se o amor, ou qualquer sentimento assim, vive, ninguém escreve. Não dá tempo, o jeito é sair desembestado, sem freio, sem rumo, para aproveitar o friozinho que dá na espinha. O amor não espera, arrebata.
    Mas, se por falta de sorte - ou sina - o amor não vinga, aí boy, o roteiro é sempre o mesmo: escrever. E por isso que escrevemos (eu e tantos outros) sobre amores que não deram certo, amores que só ameaçaram.
    E escrever é como esvaziar, aos pouquinhos, um rio que transborda. É exaustivo, requer um trabalho árduo porque se trata do seu interior, e meias-palavras não bastam. Você sabe.
    Buscar consolo em si próprio é o mesmo que tatear no escuro. É um processo de reconhecimento, depois de um grande desapontamento (lê-se: tapa-na-cara) que é imprescindível. Não dá para adiar ou repassar essa tarefa para outro alguém. Ter um ombro-amigo, um bom ouvinte, é importante, claro. Mas no fim, só você pode se ajudar.
    Eu aprendi isso, da maneira mais digna possível.
    Pausa.
    Estou tentando ser minha melhor amiga, Zé. Porque eu entendo a minha linha de raciocínio lógico-emocional. É, eu quero pensar, logicamente, com as emoções.
    E quer saber? Me deixa. Quem sabe um dia eu consiga? Por enquanto, vou me segurando daqui, me apoiando de lá, e vou seguindo. Estou seguindo. E no fim do dia, eu ainda respiro aliviada.
    Ufa. Está acabando.

    Com amor,
    Natalia.